Poemas retirados do livro Mar,
de Sophia de Mello Breyner Andresen
Atlântico
MarMetade da minha alma é feita de maresia.
Mar
De todos os cantos do
mundoAmo com um amor mais forte e mais profundo
Aquela praia extasiada e nua,
Onde me uni ao mar, ao vento e à lua.
Espero
Espero sempre por ti
o dia inteiro,
Quando na praia sobe, de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda.
Quando na praia sobe, de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda.
As ondas quebravam
uma a uma
Eu estava só com a areia e com a espuma
Do mar que cantava só para mim.
Eu estava só com a areia e com a espuma
Do mar que cantava só para mim.
Dia do mar no ar
Dia do mar no ar,
construídoCom sombras de cavalos e de plumas
Dia do mar no meu quarto-cubo
Onde os meus gestos sonâmbulos deslizam
Entre o animal e a flor como medusas.
Dia do mar no ar, dia
alto
Onde os meus gestos são gaivotas que se perdem
Onde os meus gestos são gaivotas que se perdem
Rolando sobre as
ondas, sobre as nuvens.
Barcos
Dormem na praia os
barcos pescadores
Imóveis mas abrindo
Os seus olhos de estátua
E a curva do seu bico
Rói a solidão.
Imóveis mas abrindo
Os seus olhos de estátua
E a curva do seu bico
Rói a solidão.
Praia
As ondas desenrolavam os seus braços
E as brancas tombam de bruços.
E as brancas tombam de bruços.
Lusitânia
Os que avançam de
frente para o mar
E nele enterram como uma aguda faca
E proa negra dos seus braços
E nele enterram como uma aguda faca
E proa negra dos seus braços
Vivem de pouco pão e
de luar.
Ondas
Onde-- ondas-- mais
belos cavalos
Do que estes ondas que vóis sois
Onde mais bela curva de pescoços
Onde mais bela crina sacudida
Ou impetuoso arfar no mar imenso
Onde tão ébrio amor em vasta praia.
Do que estes ondas que vóis sois
Onde mais bela curva de pescoços
Onde mais bela crina sacudida
Ou impetuoso arfar no mar imenso
Onde tão ébrio amor em vasta praia.
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